Carta do Sr Bispo aos finalistas da FCT 2010

Caros Finalistas

Pela 5ª vez consecutiva a vossa Associação de Estudantes e a Direcção da FCT me convidam a celebrar a Bênção das Pastas e, portanto, a invocar a protecção de Deus sobre as vossas vidas. E, crede-o, é motivo de alegria para mim participar neste evento. É alegria porque é esperança. Esperança também de que não deixeis de procurar, para além da competência profissional e de um percurso bem sucedido, a verdade sobre a vida que Deus vos oferece, Ele cuja bênção ireis pedir na vossa festa no dia 29 de Maio.

Queria aproveitar para vos oferecer três pensamentos de um homem muito apaixonado pela vida académica, reconhecido e estimado pelos seus pares como pensador original e profundo, e que diz porque tem alguma coisa para dizer, e não apenas porque tem que dizer alguma coisa…
São três pensamentos que fazem pensar e que vos ofereço a todos vós, que procurais intensamente ‘captar’ a vida:
O primeiro é sobre a alegria. Sobre a ‘seriedade’ dessa alegria que acima vos referi:
“A maior pobreza é a incapacidade de alegria, o tédio da vida considerada absurda e contraditória. Esta pobreza hoje está muito difundida, em formas muito diferentes, quer nas sociedades materialmente ricas quer também nos países pobres. A incapacidade de alegria supõe e causa a incapacidade de amar, inveja, avareza. Todos estes são vícios que devastam a vida dos indivíduos e o mundo. Eis por que precisamos de uma nova evangelização: se a arte de viver permanece desconhecida tudo o mais deixa de funcionar. Mas esta arte não é objecto da ciência. É uma arte que só pode ser comunicada por quem tem a vida. Por aquele que é o Evangelho em pessoa.”

Mas perguntar-se-á: que sentido faz falar de evangelização quando se perdeu o rasto de Deus, de Deus que parece esconder-se de nós. Daí este novo texto, que nos convida a posicionarmo-nos:
“Se hoje ainda temos dificuldade em percepcionar Deus, é porque se tornou demasiado fácil evitarmo-nos a nós próprios e fugir perante a profundidade da nossa própria existência, na anestesia de uma qualquer comodidade. Aquilo que em nós existe de mais profundo permanece, então, inexplorado. Se é verdade que só se vê bem com o coração, quão cegos somos todos nós!”
Não tenhais medo de enfrentar a busca de Deus! Deus não é contra a vossa liberdade. Nesse sentido, aqui vos deixo este último e belo texto que vale a pena ler com atenção:

“Tolerância e fé são conceitos que se opõem? Ou, por outras palavras, poder-se-á conciliar fé cristã e modernidade? Se a tolerância é um dos fundamentos da época moderna, afirmar que se encontrou a Verdade não é talvez uma presunção superada que deve ser rejeitada, se se quiser quebrar a espiral da violência que atravessa a história das religiões? Esta pergunta coloca-se hoje de uma maneira cada vez mais dramática, no encontro entre o cristianismo e o mundo, e difunde-se cada vez mais a convicção de que a renúncia, por parte da fé cristã, à pretensão de Verdade seja a condição fundamental para obter uma nova paz mundial. Os temas do verdadeiro e do bem não podem ser separados. Platão tinha razão ao identificar o ponto mais alto do divino com a ideia do bem. De forma inversa, se não podemos conhecer a verdade em relação a Deus, então também a verdade em relação àquilo que é o bem e àquilo que é o mal permanece inacessível. Em tal caso, não existe o bem e o mal; permanece apenas o cálculo das consequências: o ethos é substituído pelo cálculo. Falando ainda mais claramente: as três questões sobre a verdade, sobre o bem, sobre Deus são uma única e mesma questão. E se para ela não existe resposta, andamos, então, às cegas relativamente às coisas essenciais da nossa vida. Então, a existência humana é verdadeiramente “trágica”- então, certamente compreendemos também o que deve significar redenção. O conceito bíblico de Deus reconhece Deus como o bem, como o bom (cf. Mc 10, 18). Este conceito de Deus atinge o seu cume na afirmação de S. João: «Deus é Amor» (1 Jo 4, 8). Verdade e amor são idênticos. Esta afirmação – quando compreendida em todo o seu alcance – é a maior garantia da tolerância; de uma relação com a Verdade, cuja única arma é ela mesma e portanto o amor.”

Como já tereis percebido, estes pensamentos são do Papa Bento XVI que nos vai visitar de 11 a 14 deste mês. Vale a pena lê-lo, também para conseguir ler, com mais beleza, a própria vida.

E vos digo – e também a vossos professores e pais - com alegria e esperança: parabéns e felicidades.
Setúbal, 4 de Maio 2010
+Gilberto, Bispo de Setúbal

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