Benção dos Finalistas 2010

Benção das Pastas? das Fitas? Melhor será dizer dos Finalistas? Não que as 'coisas' não possam ser abençoadas. Aí está o Ritual da Celebração das Bençãos a dispor diante de nós diversos ritos para a celebração da benção das casas, das instalações desportivas, dos carros, dos instrumentos técnicos ou das bandeiras! Todavia, toda a benção das coisas recai, finalmente, sobre as pessoas 'donas' das coisas. Recai, obviamente, sobre quem invoca, sobre as suas vidas, sendo as 'coisas' apenas caminho para chegar às pessoas.
E o que é uma benção, então? É um gesto de Deus: "Só pode abençoar quem tem autoridade. Só pode abençoar quem pode criar. Abençoar só Deus pode". Todavia o homem tem a tentação de desistir da benção de Deus, e o que é mais, de se tornar ele mesmo o fabricante de uma vida feliz, sem a benção de Deus! Nesse sentido Nietzche pronunciou uma palavra de rebelião quando disse: 'de suplicantes devemos tornar-nos em abençoadores'.
Porém, "Deus fez participantes deste poder de abençoar todos aqueles que são chamados a criar vida: os pais e o sacerdote" (Romano Guardini Sinais Sagrados).
E é por isso que no próximo sábado, pelas 10h, o Sr Bispo de Setúbal lá estará, na FCT, a abençoar junto dos pais aqueles filhos que, por Misericórdia de Deus, assim se poderão descobrir mais filhos de Deus!
Pe Pedro

Carta do Sr Bispo aos finalistas da FCT 2010

Caros Finalistas

Pela 5ª vez consecutiva a vossa Associação de Estudantes e a Direcção da FCT me convidam a celebrar a Bênção das Pastas e, portanto, a invocar a protecção de Deus sobre as vossas vidas. E, crede-o, é motivo de alegria para mim participar neste evento. É alegria porque é esperança. Esperança também de que não deixeis de procurar, para além da competência profissional e de um percurso bem sucedido, a verdade sobre a vida que Deus vos oferece, Ele cuja bênção ireis pedir na vossa festa no dia 29 de Maio.

Queria aproveitar para vos oferecer três pensamentos de um homem muito apaixonado pela vida académica, reconhecido e estimado pelos seus pares como pensador original e profundo, e que diz porque tem alguma coisa para dizer, e não apenas porque tem que dizer alguma coisa…
São três pensamentos que fazem pensar e que vos ofereço a todos vós, que procurais intensamente ‘captar’ a vida:
O primeiro é sobre a alegria. Sobre a ‘seriedade’ dessa alegria que acima vos referi:
“A maior pobreza é a incapacidade de alegria, o tédio da vida considerada absurda e contraditória. Esta pobreza hoje está muito difundida, em formas muito diferentes, quer nas sociedades materialmente ricas quer também nos países pobres. A incapacidade de alegria supõe e causa a incapacidade de amar, inveja, avareza. Todos estes são vícios que devastam a vida dos indivíduos e o mundo. Eis por que precisamos de uma nova evangelização: se a arte de viver permanece desconhecida tudo o mais deixa de funcionar. Mas esta arte não é objecto da ciência. É uma arte que só pode ser comunicada por quem tem a vida. Por aquele que é o Evangelho em pessoa.”

Mas perguntar-se-á: que sentido faz falar de evangelização quando se perdeu o rasto de Deus, de Deus que parece esconder-se de nós. Daí este novo texto, que nos convida a posicionarmo-nos:
“Se hoje ainda temos dificuldade em percepcionar Deus, é porque se tornou demasiado fácil evitarmo-nos a nós próprios e fugir perante a profundidade da nossa própria existência, na anestesia de uma qualquer comodidade. Aquilo que em nós existe de mais profundo permanece, então, inexplorado. Se é verdade que só se vê bem com o coração, quão cegos somos todos nós!”
Não tenhais medo de enfrentar a busca de Deus! Deus não é contra a vossa liberdade. Nesse sentido, aqui vos deixo este último e belo texto que vale a pena ler com atenção:

“Tolerância e fé são conceitos que se opõem? Ou, por outras palavras, poder-se-á conciliar fé cristã e modernidade? Se a tolerância é um dos fundamentos da época moderna, afirmar que se encontrou a Verdade não é talvez uma presunção superada que deve ser rejeitada, se se quiser quebrar a espiral da violência que atravessa a história das religiões? Esta pergunta coloca-se hoje de uma maneira cada vez mais dramática, no encontro entre o cristianismo e o mundo, e difunde-se cada vez mais a convicção de que a renúncia, por parte da fé cristã, à pretensão de Verdade seja a condição fundamental para obter uma nova paz mundial. Os temas do verdadeiro e do bem não podem ser separados. Platão tinha razão ao identificar o ponto mais alto do divino com a ideia do bem. De forma inversa, se não podemos conhecer a verdade em relação a Deus, então também a verdade em relação àquilo que é o bem e àquilo que é o mal permanece inacessível. Em tal caso, não existe o bem e o mal; permanece apenas o cálculo das consequências: o ethos é substituído pelo cálculo. Falando ainda mais claramente: as três questões sobre a verdade, sobre o bem, sobre Deus são uma única e mesma questão. E se para ela não existe resposta, andamos, então, às cegas relativamente às coisas essenciais da nossa vida. Então, a existência humana é verdadeiramente “trágica”- então, certamente compreendemos também o que deve significar redenção. O conceito bíblico de Deus reconhece Deus como o bem, como o bom (cf. Mc 10, 18). Este conceito de Deus atinge o seu cume na afirmação de S. João: «Deus é Amor» (1 Jo 4, 8). Verdade e amor são idênticos. Esta afirmação – quando compreendida em todo o seu alcance – é a maior garantia da tolerância; de uma relação com a Verdade, cuja única arma é ela mesma e portanto o amor.”

Como já tereis percebido, estes pensamentos são do Papa Bento XVI que nos vai visitar de 11 a 14 deste mês. Vale a pena lê-lo, também para conseguir ler, com mais beleza, a própria vida.

E vos digo – e também a vossos professores e pais - com alegria e esperança: parabéns e felicidades.
Setúbal, 4 de Maio 2010
+Gilberto, Bispo de Setúbal

Biografia Breve do Papa Bento XVI


1927 “Nasci no dia 16 de Abril, Sábado Santo, em Markl im Inn (Baviera). Fui baptizado na manhã seguinte. A parte mais importante e mais bonita da minha infância passei-a em Traunstein, uma cidade muito influenciada por Salzburg. Por conseguinte, Mozart entrou na nossa alma desde o princípio, e ainda hoje continua emocionando-me porque é tão claro e, ao mesmo, tempo tão profundo.”
“No Outono íamos aos campos procurar alface-brava; nos prados em redor encontrávamos, sob orientação da nossa mãe, várias coisas úteis para o presépio.”
“Não sou capaz de indicar uma prova de verdade da fé mais convincente do que a sincera e franca humanidade que a fé fez amadurecer nos meus pais e em muitas outra pessoas que encontrei ao longo da vida.”

1939 J. Ratzinger entra no Seminário. Depois da guerra dirá: “Gratidão e vontade de renascer, de trabalhar na Igreja e para o mundo, eram estes o sentimentos que dominavam a atmosfera daquela casa.”

1943 Juntamente com os colegas de Seminário é obrigado a prestar serviço militar: “Uma noite tiraram-nos da cama e mandaram-nos reunir ainda meio adormecido. Um oficial das SS chamou-nos da fileira, um a um, e tentou induzir-nos a que nos alistássemos voluntariamente no corpo das SS, aproveitando-se do nosso cansaço e da posição de cada um em frente ao grupo todo reunido. Muitos camaradas, que inclusive eram boas pessoas, foram alistadas desta maneira, neste grupo criminoso. Juntamente com outros, eu tive a sorte de poder dizer que queria ser sacerdote católico. Cobriram-me de impropérios e de insultos e mandaram-nos para trás…”

1951 É ordenado sacerdote juntamente com o irmão Georg: “Éramos mais de quarenta candidatos; quando fomos chamados respondemos Adsum ‘Eis-me aqui’. Era um esplêndido dia de verão que se tornou inesquecível como o momento mais importante da minha vida.”

1952 Começa a sua actividade como professor de teologia. Quando do Maio/68 ninguém lhe tirou o microfone ou lhe atirou ovos: “Não, sempre se entendeu bem com os alunos. Uma vez houve um debate com os professores Kung, Seckler, Ratzinger, Neumann. Na apaixonada discussão que se seguiu o professor Ratzinger não abriu a boca. De repente ouvem-se as vozes dos alunos: ‘que fale Ratzinger, que fale Ratzinger…”

1962-65 É consultor teológico do Card Frings durante o concilio Vaticano II. Certa vez o Cardeal havia pedido a Ratzinger que lhe preparasse um texto para uma conferência que tinha que fazer em Génova. A conferência causa tanto impacto em Itália que o papa João XXIII chama o Cardeal de Colónia a Roma e diz-lhe ‘querido Cardeal: disse tudo o que eu penso e queria dizer…”

1977 É nomeado por Paulo VI Arcebispo e depois Cardeal de Munique.
1981 É chamado para trabalhar em Roma pelo Papa: “Ratzinger reconhecia na pessoa carismática e pastoral de João Paulo II uma ‘paixão pelo homem’ e uma capacidade para descobrir a ‘dimensão espiritual da história’. O papa Wojtyla reconhecia na pessoa tímida de Ratzinger um intelectual contemporâneo que era um teólogo mais completo do que ele próprio. Em conjunto formavam uma equipa intelectual fantástica.”

2005 A 19 de Abril é eleito Papa e escolhe o nome Bento XVI: “ Rogo-vos [aos cardeais depois da sua eleição]: jamais deixeis faltar-me a vossa amizade.”
“O nosso ministério é um dom de Cristo aos homens, para construir no Seu corpo o mundo novo. Vivamos o nosso ministério assim, como dom de Cristo aos homens! Peçamos com insistência ao Senhor, para que depois do grande dom do Papa João Paulo II, nos ofereça um pastor segundo o Seu coração, um pastor que nos guie ao conhecimento de Cristo, ao seu amor, à verdadeira alegria. Amén.”

Peregrinação a pé Fátima


Pela primeira vez, alguns, mais uma vez, outros, uma vez mais, eu, iremos a pé a Fátima. Para castigar o corpo? Disparate! Por passeio? Bahh! Por quê, então? Aqui, deixo meia dúzia de linhas do António Pinto Leite que certamente ajudaram a compreender as razões de ser desta peregrinação:

“Na semana que aí vem, irei a Fátima, a pé. Pisar o silêncio que não tenho na vida de todos os dias, para conseguir falar com Deus e não apenas comigo próprio, como nos acontece quase sempre. Parar o tempo, para ter tempo, ser ninguém para me sentir alguém, caminhar misteriosamente para perceber o sentido deste absurdo que é existir. Juntar a liberdade e a solidão e submeter-lhes a minha imperfeição. Confiar na humildade e na esperança e pôr-me à disposição da aventura que quiserem. E rezar, essa palavra que as décadas baniram, que eu bani durante tantos anos. Rezar, simplesmente rezar.” A. PINTO LEITE, Expresso, 4 de Maio de 1996