Mensagem de D. Gilberto aos Finalistas

Caros finalistas do Ensino Superior do ano de 2009,

A igreja de Setúbal alegra-se pela vitória que alcançastes com a conclusão do vosso curso; dá-vos parabéns - bem como aos docentes e ao pessoal não docente das vossas escolas e aos vossos familiares particularmente aos pais - ; e deseja-vos muitas felicidades para o ciclo de vida que ides iniciar.
É provável que estejais preocupados com o futuro, sempre difícil, mas agora ainda mais. Não vos assusteis. Os homens sempre tiveram de enfrentar o futuro com as suas mil dificuldades e perigos. Podia apontar-vos uma multidão de jovens que enfrentaram enormes dificuldades e que triunfaram. Vou referir apenas um jovem que viveu em Portugal no século XIV, num tempo difícil, e que ficou no coração dos portugueses como o Santo Condestável. Este homem, Nuno Álvares Pereira, subiu tão alto que Camões nos Lusíadas, entre as várias oitavas que lhe dedicou o cantou assim: ditosa pátria que tão ilustre filho teve.
Escolhi referi-lo porque no dia 26 de Abril o Santo Padre, depois de o ter proclamado solenemente como santo, o propôs como modelo para a Igreja espalhada por todo o mundo, dizendo em resumo:‘considerai o êxito da sua carreira, imitai a sua fé’.
Se São Nuno Álvares Pereira venceu, num contexto difícil, também vós podeis vencer se como ele aceitardes alguns desafios, entre os quais, o desafio de acreditar que é possível; o desafio de assumir responsavelmente a vida nas vossas mãos; o desafio da solidariedade e da verdade.
Mas o segredo último do triunfo de São Nuno Álvares Pereira está na sua fé em Jesus Cristo: uma fé firme e forte quando, como outros, a poderia ter recusado ou a poderia ter vivido de forma pouco ou nada séria. Foi esta fé que o levou a confiar sempre em Deus mesmo quando parecia que Ele se ausentava; a arriscar a vida em prol do bem comum; a dar toda a fortuna para ajudar os pobres; a dedicar longo tempo à oração; e a ser humilde diante de Deus e diante do mais pobre dos homens.
Foi a confiança em Jesus que lhe deu coragem para ser diferente; para assumir a sua responsabilidade perante si e a sociedade, para amar os outros – a começar pelos pobres – com generosidade total: para triunfar.
Quereis vencer, caros finalistas?
Considerai o triunfo da carreira de São Nuno Álvares Pereira e imitai o seu exemplo. Jesus Cristo, que fez dele um homem ilustre e um santo, também o fará em vós, se como São Nuno vos decidirdes a amá-Lo de todo o coração, na comunhão desta grande família que é a Igreja. Apoiado na intercessão de São Nuno Álvares Pereira peço a Deus que ilumine os olhos do vosso coração para poderdes ver a missão que Deus vos quer confiar e para a realizardes com a alma grande de S. Nuno. E de novo vos digo com alegria e esperança: parabéns e felicidades.
+Gilberto, Bispo de Setúbal.

Homilia do Cardeal-Patriarca na Missa de Acção de Graças pela canonização de São Nuno de Santa Maria

«Acreditar e amar, itinerário da santidade cristã»
(...)
A caridade é a mais perfeita expressão da fé. Em cada acto de amor confessamos a nossa fé. É por isso que nas cartas apostólicas, tanto São João como São Tiago insistem que a fé professada, mas não expressa em actos de caridade, é falsa. No texto desta Liturgia, São João afirma: “quem observa os Seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele”, ou seja, é a generosidade do amor que exprime a união vital com Cristo e, por Cristo, com Deus.

É por isso que a primeira expressão do amor cristão é a oração, o saborear silencioso dessa união de vida com Cristo. O amor a Deus é de todas as expressões do amor cristão a que mais exige a fé: ama-se acreditando e acredita-se amando. Acreditar é o único caminho, na nossa situação de peregrinos, para permanecermos unidos a Cristo, na intimidade do amor divino. É viver toda a vida com Deus e em Deus. Escutemos o próprio Jesus: “Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido”.

É no seio desta intimidade confiante que somos chamados a amar cada um dos nossos irmãos como Cristo os ama. Esse é o rosto novo da caridade cristã, comparada com a solidariedade humana. A força e a exigência do amor dos irmãos brota do coração de Deus: é generosidade gratuita, exprime-se de forma mais pura no amor daqueles que ninguém ama, que não apetece amar, de quem não esperamos nada como retribuição. Também então se acredita, amando, porque é aceitar que o único prémio do amor é o amor.

4. Acreditar e amar, este é o caminho da santidade. E porque são as atitudes constitutivas da existência cristã, significa que Deus, ao dar-nos o dom da fé, nos chama à santidade. O risco de uma canonização é levar-nos a pensar que os santos como tais reconhecidos pela Igreja, são casos de excepção; ao contrário, acordam-nos para a meta decisiva do chamamento que Deus nos fez, à fé, ao amor, à santidade. Olhemos assim para a proclamação solene da santidade de um português, nosso concidadão. Em Nuno Alvares Pereira, numa longa vida, variada nas responsabilidades e nas missões a que foi chamado, sempre se evidenciaram a profundidade da sua fé e a grandeza da caridade, que levou ao extremo do apagamento humano para que só ficasse o amor. Ele continua a dizer-nos que é possível viver com fé todas as realidades humanas, sociais, políticas, militares, familiares, religiosas; continua a dizer-nos que é possível ser santo em todas elas, que se pode viver toda a vida com Deus, que nos vai sugerindo, em cada momento e em cada circunstância, a maneira de acreditar e de amar.

Lisboa, Paróquia de Santo Condestável, 10 de Maio de 2009
† JOSÉ, Cardeal-Patriarca

Homenagem ao Santo Condestável

De regresso da Canonização cheios de vontade de continuar a nossa homenagem ao Santo entramos em cena recitando poesia e prosa ao som da guitarra que canta a alma portuguesa...
Não percam dia 9 de Maio, pelas 21h15 na Sé de Lisboa!