Santa Missa

Retomamos a celebração da Eucaristia na terça 13 de Abril, às 13h15.

A Páscoa



Nunca me esquecerei da primeira vez que fui a Bourke visitar as Irmãs. Dirigimo-nos à periferia de Bourke, a uma enorme reserva onde vivem os aborígenes, em pequenas cabanas construídas com folhas de estanho, cartões velhos, etc. Entrei num desses compartimentos, todos pequenos. Chamo-lhe uma casa, mas trata-se de um único compartimento, dentro do qual está tudo. Disse ao homem que ali se encontrava: “Por favor, deixe-me fazer-lhe a cama, lavar-lhe a roupa, limpar-lhe a casa.” E ele respondeu-me repetindo-me várias vezes: “Eu estou bem, eu estou bem.” Então eu disse-lhe: “Mas ficará ainda melhor se me deixar fazer-lhe isso.” Por fim, lá me deixou. E deixou-me de tal maneira que, quando acabei, tirou do bolso um sobrescrito velho. Começou a abri-los, um após outro, e tirou lá de dentro um pequeno retrato do pai, que me deu a ver. Eu olhei para a fotografia, depois olhei para ele e comentei: “É tão parecido com o seu pai.” Ele ficou felicíssimo por eu ter sido capaz de detectar a semelhança com o pai na cara dele. Eu abençoei a fotografia e devolvi-lha, e ele voltou a metê-la no primeiro sobrescrito, depois no segundo sobrescrito, depois no terceiro sobrescrito, e voltou a meter a fotografia no bolso, junto ao coração. Depois de eu lhe ter limpado o compartimento, descobri a um canto uma grande lamparina toda suja e perguntei-lhe: “ Nunca acende esta lamparina? É tão bonita! Nunca a acende?” Ele replicou: “Para quem? Passam-se meses e meses e meses sem que ninguém aqui venha. Vou acende-la para quem?” E eu retorqui-lhe: “E se as irmãs cá vierem, acende-a?” E ele respondeu: “Sim.” Então as irmãs começaram a ir visitá-lo, eram apenas cinco ou dez minutos por dia, mas começaram a acender aquela lamparina. Algum tempo depois, ele adquiriu o costume de a acender. Lentamente, pouco a pouco, as Irmãs deixaram de entrar na casa dele. Mas iam de manhã vê-lo. Eu esqueci-me completamente do episódio, e foi então que, dois anos depois, ele mandou dizer: “Digam à Madre, minha amiga, que a luz que ela acendeu na minha vida continua a brilhar.”

Madre Teresa de Calcutá
Austrália, Outubro 1991