Homilia do Cardeal-Patriarca na Missa de Acção de Graças pela canonização de São Nuno de Santa Maria

«Acreditar e amar, itinerário da santidade cristã»
(...)
A caridade é a mais perfeita expressão da fé. Em cada acto de amor confessamos a nossa fé. É por isso que nas cartas apostólicas, tanto São João como São Tiago insistem que a fé professada, mas não expressa em actos de caridade, é falsa. No texto desta Liturgia, São João afirma: “quem observa os Seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele”, ou seja, é a generosidade do amor que exprime a união vital com Cristo e, por Cristo, com Deus.

É por isso que a primeira expressão do amor cristão é a oração, o saborear silencioso dessa união de vida com Cristo. O amor a Deus é de todas as expressões do amor cristão a que mais exige a fé: ama-se acreditando e acredita-se amando. Acreditar é o único caminho, na nossa situação de peregrinos, para permanecermos unidos a Cristo, na intimidade do amor divino. É viver toda a vida com Deus e em Deus. Escutemos o próprio Jesus: “Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido”.

É no seio desta intimidade confiante que somos chamados a amar cada um dos nossos irmãos como Cristo os ama. Esse é o rosto novo da caridade cristã, comparada com a solidariedade humana. A força e a exigência do amor dos irmãos brota do coração de Deus: é generosidade gratuita, exprime-se de forma mais pura no amor daqueles que ninguém ama, que não apetece amar, de quem não esperamos nada como retribuição. Também então se acredita, amando, porque é aceitar que o único prémio do amor é o amor.

4. Acreditar e amar, este é o caminho da santidade. E porque são as atitudes constitutivas da existência cristã, significa que Deus, ao dar-nos o dom da fé, nos chama à santidade. O risco de uma canonização é levar-nos a pensar que os santos como tais reconhecidos pela Igreja, são casos de excepção; ao contrário, acordam-nos para a meta decisiva do chamamento que Deus nos fez, à fé, ao amor, à santidade. Olhemos assim para a proclamação solene da santidade de um português, nosso concidadão. Em Nuno Alvares Pereira, numa longa vida, variada nas responsabilidades e nas missões a que foi chamado, sempre se evidenciaram a profundidade da sua fé e a grandeza da caridade, que levou ao extremo do apagamento humano para que só ficasse o amor. Ele continua a dizer-nos que é possível viver com fé todas as realidades humanas, sociais, políticas, militares, familiares, religiosas; continua a dizer-nos que é possível ser santo em todas elas, que se pode viver toda a vida com Deus, que nos vai sugerindo, em cada momento e em cada circunstância, a maneira de acreditar e de amar.

Lisboa, Paróquia de Santo Condestável, 10 de Maio de 2009
† JOSÉ, Cardeal-Patriarca

Sem comentários: